Apesar do surgimento de novas tecnologias demandar que o mercado se adapte, muitas empresas falham ao conduzir suas iniciativas de transformação digital. Segundo Pesquisa Global da McKinsey¹ realizada em 2018, a taxa de sucesso das iniciativas é inferior a 30%². Ainda assim, no mesmo levantamento, 68% dos entrevistados demonstraram a necessidade de aumentar a eficácia […]
Apesar do surgimento de novas tecnologias demandar que o mercado se adapte, muitas empresas falham ao conduzir suas iniciativas de transformação digital.
Segundo Pesquisa Global da McKinsey¹ realizada em 2018, a taxa de sucesso das iniciativas é inferior a 30%². Ainda assim, no mesmo levantamento, 68% dos entrevistados demonstraram a necessidade de aumentar a eficácia de seus modelos operacionais por meio da tecnologia.
Para alguns, a transformação digital chega como um imperativo a ser adotado, o que talvez explique a alta taxa de insucesso. Conversamos com 8 Executivos C-Level para entender: por que fazer a transformação digital?
E como, afinal, alinhar seus esforços de modo a ser bem sucedido? As respostas convergem em muitos pontos – como o sucesso do cliente e a necessidade da transformação acontecer a serviço da estratégia.
Italo Flammia, consultor de estratégia digital, reforça que a transformação digital precisa vir como resposta à estratégia do negócio.
Ela não é um framework simples que cada empresa pode dar Ctrl C + Ctrl V. As soluções devem ser pensadas e co-criadas para ajudar o negócio a alcançar suas principais metas. ‘’A transformação digital vem da estratégia da empresa. Estratégia digital, estratégia de negócio… Para mim está tudo muito relacionado.”
De acordo com Italo, a pandemia do Covid-19 foi um acontecimento atípico, mas serviu para mostrar a importância da transformação digital e como as empresas nativas digitais ganharam espaço. Mas não basta apenas copiar a dinâmica adotada pelas nativas digitais.
‘’Eu gosto muito desse termo ‘sob medida’. Cada organização tem que entender por que quer fazer essa transformação digital. Qual é a sua dor? Qual problema de negócio você quer resolver? Qual oportunidade quer buscar e que ameaça está vivendo? Que outros projetos tem que lançar em paralelo à transformação digital? Quanto quer botar de energia? Quanto dinheiro? Quanto tempo? Quanto dá para esperar?”
Italo Flammia
Denis Caldeira, VP de Sales and Clients no Quinto Andar, destaca três pontos essenciais de como a transformação digital pode contribuir para a saúde de um negócio.
O primeiro deles envolve a desburocratização. “Temos uma economia do Brasil, principalmente na América Latina, muito burocrática. O digital vem para desburocratizar. Por exemplo, no Quinto Andar, você aluga um apartamento por aplicativo, sem fiador.”
De acordo com Denis, existe também um fator muito importante para a economia, que é a descentralização.
“Vivemos dentro do Brasil, estamos em São Paulo que é o principal polo econômico do país e muito distante do segundo lugar. Mas quando pensamos nos Estados Unidos, por exemplo, existem 11 pólos econômicos espalhados geograficamente e territorialmente, o que gera uma aquecimento e uma estabilidade da economia muito maior.”
Denis Caldeira, VP de Sales and Clients no Quinto Andar
Por conta da descentralização, a renda fica melhor distribuída pelo território, o que favorece o mercado local. A descentralização ainda tem um impacto profundo na vida dos colaboradores, que ganham mais autonomia sobre o seu tempo e podem dedicar-se mais às relações interpessoais, sobretudo com a família, dentro de casa.
Por fim, existe uma democratização da informação e concorrência à medida que clientes conseguem não apenas ganhar acesso a bens e serviços sem burocracia, como também podem avaliar e encontrar dados sobre qualquer negócio online.
“Ao usar o Reclame Aqui, a avaliação do Mercado Livre ou da Amazon, é possível ver rapidamente se o produto é bom se o fornecedor é confiável.”
Denis Caldeira, VP de Sales and Clients no Quinto Andar
Carlos Tristacci, Agile Transformation Officer na Renner, aponta a importância da transformação digital para manter a relevância do negócio para o mercado.
Ele carrega no currículo a condução de processos de transformação complexos, sendo um dos mais desafiadores o do Grupo Globo.
Ao rever o seu core business, a Globo busca se estabelecer como uma mídia tech – como contamos nesse artigo – provocando uma mudança organizacional profunda.
‘’Por que uma mídia tech? Os concorrentes da Globo mudaram. O mercado mudou, e nós tínhamos duas opções: poderíamos ser uma D2C ou B2B2C. Poderíamos continuar numa empresa de mídia e licenciando conteúdo para plataformas como Netflix e Amazon ou nos transformar.”
Carlos Tristacci, Agile Transformation Officer na Renner
Não é de surpreender: o grupo optou pela transformação. Carlos opina que o processo de transformação digital é mais do que uma adaptação às mudanças do mercado, mas uma forma de se manter relevante e top of mind dos consumidores. ‘’Hoje todos conhecem a Globo. Mas você lembra quem foi a produtora de conteúdos da última série que assistiu no Netflix?’’
José Paim Neto, Head de Excelência Operacional da CPFL Energia, vai de encontro à ideia de que a transformação digital se resume à tecnologia. Ela permite valorizar o capital humano, os clientes e o próprio time que faz a inovação acontecer.
‘’Já tive oportunidade de visitar algumas regiões em que 60% da população nunca acessou a internet. Dá para imaginar duas coisas: primeiro, o tanto de oportunidades que já funcionam no digital e que vão funcionar para essas comunidades. Do outro lado podemos contar com uma migração de negócios analógicos para essas regiões.”
José Paim Neto, Head de Excelência Operacional da CPFL Energia
Ambas as formas de atuação, segundo Paim Neto, indicam que a tecnologia não deve ser o único ponto de sucesso para a transformação digital.
“Aquilo que tem dado mais resultado no mundo atual vai na linha onde a transformação digital foca no cliente. Transformação digital não é tecnologia. É foco no cliente e foco no colaborador’’.
José Paim Neto, Head de Excelência Operacional da CPFL Energia
Mais do que alcançar seus objetivos estratégicos, Gisele Morila, Product Manager de Transformação Digital do Magazine Luiza, usou a transformação digital como ferramenta para chegar ao propósito da organização. ‘’Uma pergunta que todo empresário deveria fazer: ‘qual o propósito da minha empresa e no que que a tecnologia pode me ajudar a alcançar esse propósito?’”
No caso do Magazine Luiza, o propósito estava ligado à experiência do cliente, e existia uma discrepância grande entre a experiência na loja e no e-commerce, o que foi solucionado pela criação de um sistema único que permitia ao cliente comprar online e trocar na loja.
Ela recomenda que a empresa comece fazendo uma transformação digital interna, mesmo que pequena.
Foi assim que o lab de inovação da companhia começou, inclusive. (Você pode saber mais sobre o case do Magazine Luiza clicando aqui).
A experiência relatada por Gisele está alinhada com a de 70% dos entrevistados na pesquisa da McKinsey. Eles disseram que os times mudaram durante o período de transformação digital de suas empresas.
Rodrigo Cury, Executivo de Negócios da Brasileg, levanta alguns pontos importantes para saber se a transformação digital deve ser feita. ‘’Antes de mais nada, as corporações devem se perguntar: ’é necessário que eu transforme o meu negócio?’
E, caso a resposta seja positiva, tenho maturidade para fazer uma revolução?” Esse tipo de questionamento impede que a organização adote iniciativas de transformação digital simplesmente por essa ser uma tendência de mercado.
Parte-se, então, para a análise das capacidades. Conforme Cury explica, se feito sem planejamento, o processo de transformação digital pode trazer mais problemas do que soluções. ‘’Vai causar dor de cabeça e inércia organizacional. Os colaboradores terão o sentimento de ineficiência por estarem sendo cobrados por algo que não conseguem entregar.”
Caso decida fazer essa aposta, Rodrigo sugere separar um bom time, dinheiro, tempo e apetite para a mudança.
Paulo Guiné, Latin America Business Development Executive na Oracle, destaca a importância da transformação digital para atender as necessidades do cliente. Por isso mesmo, quem não toma a iniciativa pode ficar para trás.
“Se nós não fizermos a transformação digital, vamos continuar vendo o mundo passar pela televisão de tubo. Vamos continuar assistindo Chaves naquelas cores pastéis.”
Paulo Guiné, Latin America Business Development Executive na Oracle
Segundo ele, isso não atende às expectativas da grande maioria do mercado. Hoje a cultura é outra. O on demand já é uma realidade, e os consumidores estão atentos às novidades e inovações. Eles querem suas demandas atendidas de forma rápida e prática. Inclusive, 66% deles ficariam com uma imagem prejudicada da marca caso experimentassem uma má experiência (fonte: pwc). Guiné reforça:
‘’queremos acompanhar tudo em uma televisão 4K e no on demand. Queremos fazer a compra do que vemos na Netflix, na hora que quisermos e quando quisermos’’. A tecnologia transformou a relação com o cliente. “Eu tenho que fazer a transformação digital para atender o cliente como ele precisa e quer ser atendido’’.
Paulo Guiné, Latin America Business Development Executive na Oracle
Laís Machado é Consultora, Educadora e Mentora de Carreira, e tem passagem por gigantes do ramo da saúde. Segundo ela, “a tecnologia é a grande propulsora do movimento que estamos observando no mercado.”
Consumidores esperam bom atendimento, agilidade, e a comodidade para obter produtos ou resolver problemas. Ainda assim, ela reforça que a transformação digital não pode ser algo compulsório. ‘’Apesar dos benefícios, não podemos achar que a transformação digital é a única saída para os desafios que existem no negócio. Ainda existem pessoas tradicionais, que não têm acesso, não gostam ou não têm a preferência pelos canais digitais.
Essas pessoas ainda precisam ser atendidas’’. É preciso entender quando faz sentido mudar, ainda mais levando em consideração que o processo de transformação digital é árduo. Ele envolve muito planejamento, estratégias, alinhamento de expectativas e vontade de fazer acontecer. Contudo, o resultado final pode trazer inúmeros benefícios.
Quer saber mais sobre transformação digital e descobrir como implementar iniciativas sob medida para a sua organização? Por isso criamos o Transformation Experts. Lá, convidamos especialistas referência no mercado para lhe guiar ao longo do processo, contar seus casos de sucesso, além das dificuldades e obstáculos que encontraram pelo caminho.
1 A pesquisa online esteve em campo de 16 de janeiro de 2018 a 26 de janeiro de 2018, e recebeu respostas de 1.793 participantes representando toda a gama de regiões, setores, tamanhos de empresas, especialidades funcionais e mandatos. Destes, 1.521 participaram de pelo menos uma transformação digital nos últimos cinco anos em suas organizações atuais ou anteriores. Para ajustar as diferenças nas taxas de resposta, os dados são ponderados pela contribuição do país de cada respondente para o PIB global. ² Segundo a McKinsey, eles definem uma transformação de sucesso como aquela que, de acordo com os entrevistados, foi muito ou totalmente bem-sucedida em melhorar o desempenho e equipar a organização para sustentar as melhorias ao longo do tempo. Em nossa pesquisa de 2016, a taxa de sucesso foi de 20%; em 2014, 26 por cento; e em 2012, 20 por cento.