Manifesto da mulher na sociedade 5.0: você está pronta para esse mercado de trabalho?
[autores] Ao longo dos anos, venho estudando e trabalhando o tema da diversidade, particularmente nas dimensões raça, que foi o objetivo da minha tese de doutorado; e gênero, pela experiência de mais de quinze anos ministrando aulas para educação executiva em uma das maiores instituições desse segmento de ensino da américa Latina, e mais recentemente, em um programa voltado para formação de lideranças em ambientes inovadores de uma universidade americana membra da eve league. Paralelamente a essa trajetória, realizo mentorias de carreira executiva há mais de uma década, tendo a visão estratégica de cenários e a inovação como focos dessa discussão. Também sou sócia fundadora de uma HR Tech voltada para o mapeamento da prontidão de competências para ambientes inovadores. Por tudo isso, consigo entender como os profissionais se preparam para atuar em contextos de grandes transformações digitais e mudanças aceleradas (Mundo VUCA/Mundo BANI), ao mesmo tempo que se preparam para as demandas do mercado de trabalho aderentes à chamada sociedade 5.O. Toda essa trajetória me colocou no centro de um debate que instala a preocupação global em preparar as mulheres como força de trabalho para os próximos anos. Aqui, faço esse recorte na discussão: todos sabemos de temas recorrentes que envolvem gênero no mercado de trabalho, e em relação às mulheres sabemos do chamado “gender gap”, que é a discrepância entre os salários pagos para homens e mulheres em uma mesma função. Para ilustrar essa questão, trouxe o ranking do Global Gender Gap, apresentado no Fórum de Davos em 2020. O Brasil está na 92ª colocação e isto não é nada bom.
Outras discussões que envolvem essa temática são: o acesso às vagas, os processos de progressão capazes de quebrar o “teto de vidro”, os vieses inconscientes que levam ao assédio moral, assédio sexual, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, o trabalho doméstico não remunerado, o cuidado com vulneráveis não remunerado, o acesso a saúde e a educação de qualidade, aspectos que aprofundo em um livro recém lançado, com o foco em diversidade da força de trabalho (ARBACHE & GUARANI, 2020). Vamos falar aqui desse último aspecto citado que é a educação, visto que a mesma é condição definitiva para que as mulheres possam estar presentes no mercado de trabalho no século XXI.
Isto se deve pelo ritmo das transformações e pelo embarque intensivo de tecnologias advindas da quarta revolução industrial nas empresas, para que possam competir globalmente. Sem sombra de dúvida, esse embarque de tecnologia não vai parar por aí. Desde 2016, a denominação sociedade 5.0, criada no Japão, nos mostra que a fusão dos dados gerados e distribuídos pelas tecnologias, como por exemplo, inteligência artificial, blockchain, internet das coisas (IOT) e robótica, irão revolucionar o mercado e, consequentemente, impactar na gestão das empresas. A fusão desses dados criará
o chamado “gêmeo digital”, fazendo com que operações realizadas por seres humanos, possam acontecer com o uso de robôs e inteligência artificial. Isto é o que nos mostra o gráfico abaixo, adiantando para nós que até 2025 metade das horas de trabalho poderão ser realizadas por meio de automação.
É evidente que essa realidade faz com que a força de trabalho esteja pronta para responder o que as empresas precisam. Essa tração virá da capacidade dos talentos possuírem competências técnicas e comportamentais para abastecer as funções nas quais atuam. Caso contrário, não terão espaço no mercado de trabalho. Quando olhamos para a situação das mulheres, fica claro que estamos em desvantagem para competir pelas vagas de trabalho na sociedade 5.0. Muitas funções irão requerer conhecimentos técnicos voltados para as tecnologias citadas acima, construídas por uma abordagem de formação baseada em STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática), trabalhados interdisciplinarmente e com aplicação no mundo real. Os talentos que possuem essa formação são os mais valorizados e demandados em ambientes inovadores. Os números não mentem, pelo contrário, evidenciam o quanto as mulheres estão distantes desse tipo de formação, isto se deve às culturas que não incentivam a escolhas das jovens para carreiras com uma abordagem STEM, desencorajando as mesmas e levando-as para longe dos postos de trabalhos e maiores salários no século XXI. Nós chegamos hoje com um número irrisório de mulheres que optam por essa abordagem. Somente 3% das mulheres escolhem essa jornada de desenvolvimento, como mostram as estatísticas do Women in Technology Statistics. Portanto, temos aí grandes desafios:
Criar culturas e ambientes que ajudem meninas e jovens a entenderem o que é uma abordagem STEM e onde elas podem buscar desenvolvimento e formação na área. Capacitar as mulheres presentes no mercado de trabalho nessa abordagem, para que possam manter seus postos de trabalho e progredir em sua carreira. Inserir diferentes stakeholders nesse compromisso, como escolas, universidades, organizações da sociedade civil, organismos internacionais, governos e empresas. Promover políticas inclusivas capazes de acelerar as ações acima, seja no ambiente público ou privado.
As mulheres que já estão em cargos de liderança na área de tecnologia e em grandes instituições, nos ensinam e geram lições importantes para que possamos encarar os desafios de frente e conquistar posições de destaque nessa nova realidade. As histórias dessas mulheres geram modelos que inspiram e podem transformar a realidade de muitas jovens e mulheres no mercado de trabalho, como vemos nesse artigo aqui. No entanto, as mulheres que possuem um olhar estratégico para suas carreiras não podem esperar muito tempo. Para que possam continuar suas jornadas ascendentes, necessitam promover ações rápidas e estratégicas em seu processo de desenvolvimento. Para ajudá-las nessas definições seguem algumas dicas:
Buscar conhecimentos e aprimoramento nas competências técnicas: blockchain, cloud computing, analytical reasoning, inteligência artificial, UX design, business analytics, entre outras.
Aprimorar e aplicar, com prontidão, as competências comportamentais: criatividade, persuasão, colaboração, adaptabilidade e inteligência emocional, que serão trabalhados pelo Transformation Experts no eixo comportamento humano. Além disso, teremos um capítulo dedicado à carreira da mulher.
Conhecer a etapa do ciclo de vida de carreira a qual se encontra, para planejar os próximos passos, analisando com visão sistêmica e estratégica os cenários e quais são as ações que devem ser aplicadas. Discutiremos o ciclo de vida de carreira da mulher com mais detalhes aqui no Transformation Experts.
Construir uma marca pessoal capaz de influenciar e trazer uma rede de relacionamento potente.
Praticar a sororidade em grupos de mulheres que possuem o mesmo propósito.
O mais importante é lembrar que nossa jornada em relação ao mercado de trabalho não começou agora. Desde Simone de Beauvoir, feminista francesa que em 1949 apresentou ao mundo o tratado “Segundo sexo”, estamos buscando um debate mais sólido e produtivo em relação à maior igualdade de oportunidades no mundo do trabalho. A nossa geração terá agora o desafio de continuar esse percurso. Se chegamos até aqui, certamente podemos ir mais longe, e tendo as novas tecnologias como nossas grandes aliadas. Bem-vindas à sociedade 5.0.
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